terça-feira, 20 de março de 2012

O GLOBO - Matéria de Jogos Vorazes


‘Jogos Vorazes’: sem apelar para a magia, história conquista multidões

RIO - Eles são 24 adolescentes, 12 meninos e 12 meninas, enviados todos anos para se matarem em uma arena, com transmissão ao vivo para toda a população de Panem, a América do Norte em um futuro pós-apocalíptico. Esta terra é dividida na Capital, que a tudo comanda, e os seus 12 distritos. A dúzia de pares de tributos, como são chamados os lutadores, representam os seus estados e só um sobreviverá ao final. Estão abertos os “Jogos Vorazes”.

É com esta história que mistura luta pela sobrevivência e controle social à la Big Brother que a escritora americana Suzanne Collins arrebanhou uma legião de fãs por todo mundo e vendeu 30 milhões de livros no mundo (80 mil só no Brasil). Na sexta-feira, a adaptação cinematrográfica de “Jogos Vorazes” ganha as telas dos cinemas com direção de Gary Ross e a promessa de se tornar um blockbuster do tamanho de “Harry Potter” e “Crepúsculo”.

O enredo da trilogia (publicada no Brasil pela Editora Rocco), que segue com “Em Chamas” e “A Esperança”, foge da fórmula vampiro-bruxo-lobisomen-anjo que virou moda na literatura para adolescente. Nenhum personagem possui poderes sobrenaturais. Tudo o que fazem aprenderam na vida, por necessidade. Se Katniss Everdeen (interpretada por Jennifer Lawrence), a protagonista oriunda do paupérrimo Distrito 12, atira flechas com destreza é porque precisava alimentar a família após a morte do pai, em uma explosão numa mina de carvão. O realismo da história se tornou seu maior trunfo para conquistar os fãs.

- Eu sempre gostei muito de “Crepúsculo” e lia muitos fã-sites sobre as notícias. Num deles, tinha uma lista de livros recomendados e aí apareceu “Jogos Vorazes”. Só tinha o primeiro lançado no Brasil, mas fiquei fascinada. Ultimamente, só se falava de vampiro, lobo, bruxa, mas a história era completamente diferente, poderia acontecer no mundo em que a gente vive. O livro te passa mais verdade e isso me encantou muito - conta Susan Galdino, de 23 anos, que estuda Arquitetura e é uma das autoras do fã-site JogosVorazes.net.

Nessa história pós-magia, a Panem imaginária tem muito de real. A metáfora pode ser adaptada para diferentes situações: mundo desenvolvido contra países explorados, opressores contra oprimidos. Em “Jogos Vorazes”, a Capital comanda com mão de ferro os distritos. A situação de cada um varia, desde os mais desenvolvidos até os mais pobres. Nesse contexto onde a comida é racionada e viagens entre as regiões não são permitidas, a gincana sangrenta anual transforma a barbárie em um espetáculo a ser degustado pela massa e possui um duplo significado: mostra o poder da Capital sobre os distritos e funciona como um aviso sobre o que acontecerá caso alguém resolva se insurgir.

No desenrolar da história, todos os personagens são obrigados a fazer duras escolhas. Katniss começa sua saga de heroína a se voluntariar a lutar (e provavelmente morrer) no lugar de sua irmã mais nova, que tinha sido a sorteada na Colheita, como é chamada a seleção dos tributos. Ela deixa para trás seu melhor amigo, Gale (Liam Hemsworth), e se vê formando uma dupla com Peeta (Josh Hutcherson) no torneio. Durante a luta, a menina de 16 anos se verá obrigada a matar, fazer alianças, e tentar de tudo para não ser morta. O que não é uma tarefa fácil quando há outros 23 competidores dispostos a caçá-la.

“Jogos Vorazes” é, sem dúvida, o maior responsável pelo boom do filão dos romances distópicos, histórias que se passam em futuros sombrios, onde o Estado regula a vida e a morte. Para o estudante de jornalismo Brunno Maceno, de 17 anos, e colega de Susan no fã-site, o livro passa uma mensagem muito mais profunda do que “Harry Potter” e “Crepúsculo”.
- Não é só romance, anjo, vampiro, o livro tem uma mensagem muito mais profunda. Fala sobre desperdício de comida, fome, tirania, exploração, tem um lado mais humano que chama muito mais atenção. A autora descreve uma sociedade que pode ser a nossa daqui a alguns anos, é um alerta.

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