terça-feira, 20 de março de 2012

REVISTA ÉPOCA - Entrevista com Jennifer Lawrence


Teve fã que reclamou quando Jennifer Lawrence, 21, foi escolhida para viver Katniss em Jogos Vorazes. “Muito velha”, alguns disseram. “Muito loira”, falaram outros. Eles não contavam com seu talento – e com uma boa tintura de cabelo. Apesar de sua juventude, a atriz já mostrou a que veio. Ganhou o troféu Marcello Mastroianni de revelação aos 18, por seu terceiro filme, Vidas que se Cruzam, de Guillermo Arriaga, no Festival de Veneza de 2008. Ano passado, foi indicada ao Oscar por Inverno da Alma – perdeu para Natalie Portman, de Cisne Negro. Depois, fez papéis de namorada nos independentes Like Crazy, de Drake Doremus, e Um Novo Despertar, de Jodie Foster, e foi Raven em X-Men: Origens, de Matthew Vaughn. Comparada por Gary Ross, diretor deJogos Vorazes, com Meryl Streep, sabe que sua vida vai mudar depois do lançamento do aguardadíssimo filme. Teve dúvidas em aceitar o projeto, mas não parece se abalar. Loira, de longos cabelos, unhas sem esmalte, tem formas de uma mulher real, ressaltadas pelo vestido preto justo. Fala muito rápido, comendo as palavras, ri bastante e faz vozes engraçadas o tempo inteiro. Não demonstra se levar muito a sério. E, como tinham dito seus companheiros de elenco, Josh Hutcherson, 19, Liam Hemsworth, 22, e Lenny Kravitz, 47, nem sempre filtra o que diz. Os jovens, especialmente, mostraram-se desconcertados pela atriz. Foi assim que começou a entrevista, num começo de tarde em março, no hotel Four Seasons, em Los Angeles:

ÉPOCA - Josh e Liam acabaram de dizer que você é completamente louca (os atores disseram que Jennifer é capaz de dizer as coisas mais absurdas, e que eles nem sabiam como responder).
Jennifer Lawrence - Ah, sim, claro que eles diriam isso. Eles que são malucos. Nem sei como responder. Você acaba de entrar na sala e falam: “Alguém disse que você é doida!”. Uau! Que legal, acho. E agora? Para onde vamos daí?

ÉPOCA - Mas a atriz Elizabeth Banks acrescentou que é porque eles não pensam com suas cabeças ainda.
Jennifer - Oh, Deus! Responder a isso é ainda pior! (risos) Por favor, me tirem daqui! Estou aterrorizada! Deus! (risos)

ÉPOCA - Sua personagem recebe conselhos o tempo todo para ser adorável. Você se identifica com isso, estando nessa indústria?
Jennifer - Sim! Claro! Essa é a parte nova do trabalho. Originalmente, era só ler roteiros e conversar com diretores e rodar filmes. Agora é: “Ah, você também tem de usar saltos altos e fazer as pessoas gostarem de você!”. Quando li esse pedaço dos livros, pensei: “Hum, sei bem como é isso!”.

ÉPOCA - O que você mais gostou nos livros?
Jennifer - Eu amo toda a mensagem, toda a história, os temas, como são poderosos. Acho que têm significado.

ÉPOCA - Que mensagens?
Jennifer - Principalmente, nossa obsessão com reality shows, usando as tragédias de outras pessoas como forma de entretenimento.

ÉPOCA - Sente responsabilidade por interpretar uma personagem amada por milhões de pessoas?
Jennifer - Sim. Eu senti isso de cara, quando aceitei fazer o filme. Mas, quando você chega ao set, precisa esquecer isso, tem um filme para rodar. É preciso usar seus instintos, confiar no diretor, não pode ficar pensando sobre como as outras pessoas gostariam que você fizesse.

ÉPOCA - Agora que o filme vai estrear, está com medo?
Jennifer - Tenho medo de que todos me odeiem! Mas isso acontece antes de cada estreia. Sempre penso que todos vão me odiar. Aqui só está numa escala maior.

ÉPOCA - Muitas pessoas comparam Jogos Vorazes com Crepúsculo, em que Kristen Stewart virou celebridade de repente. Como está se preparando para isso?
Jennifer - Eu me sinto mal por Kristen, mas nossas situações eram muito diferentes. Ninguém sabia que os filmes da saga seriam aquela loucura. Acho que provavelmente reagiria da mesma forma, é aterrorizante. Tive a chance de pesar cada aspecto e tomar a decisão sozinha. E tempo de me preparar. Ao mesmo tempo, não há muito que você possa fazer, a não ser pensar: Está chegando! (risos)

ÉPOCA - Você tem uma estratégia?
Jennifer - Não, tenho nenhuma estratégia. Vou só esperar pelo melhor! (risos)

ÉPOCA - Pode falar sobre os testes?
Jennifer - Tive uma reunião com Gary, depois fiz um teste de vídeo, aí lemos coisas do roteiro, improvisamos, foi um processo longo.

ÉPOCA - Quando soube que tinha conseguido o papel, quis fazer imediatamente?
Jennifer - Profissionalmente, sim. Não tinha o que pensar. Mas disse a eles que precisava de alguns dias, só para pesar cada aspecto e ter 100% de certeza antes de dizer sim.

ÉPOCA - Quais eram suas dúvidas?
Jennifer - Como minha vida pessoal ia mudar, se eu estava preparada para algo desse tamanho. Como atriz, você sempre quer evitar os holofotes e expor a vida pessoal porque isso afasta as pessoas dos personagens que você faz. As pessoas veem o personagem e pensam: “Hum, eu a vi na revista People”. E não queria que, em cada filme que eu fizesse, as pessoas pensassem: “Olha a Katniss fazendo isso!”.

ÉPOCA - Verdade que sua mãe contestou suas dúvidas?
Jennifer - Sim. Minha mãe me chamou de hipócrita. Pelo telefone. No primeiro dia, eu disse, não, não vou fazer. No segundo, estava, o que devo fazer? No terceiro: ok, vou fazer. No primeiro dia, eu liguei para ela. Disse que tinham me oferecido, que amava os livros. E ela: “Em que você está pensando?”. Eu falei que não queria fazer, que ia ser grande demais, que tinha medo e tudo o mais. E ela me falou: “Você é hipócrita, porque quando você está fazendo filmes independentes e alguém pergunta por que não está fazendo filmes de estúdio, você diz que o que importa é o roteiro, a história e o diretor. Que o tamanho do filme não interessa. Agora você tem uma história que ama, um roteiro que ama, um diretor que ama, e não vai fazer por causa do tamanho! Você é hipócrita!” (faz som de engolindo em seco). Aí ela me pegou! (risos)

ÉPOCA - Poderia explicar o que a conecta com a personagem?
Jennifer - Ah, eu gostaria de ter mais em comum com ela. Mas acho que nem é tanto sobre conexão. Quando você está fazendo uma personagem assim, precisa encontrar alguém que você compreenda tão bem a ponto de falar e agir como ela sem forçar, sem ser difícil.

ÉPOCA - Como você pintou Katniss na sua cabeça?
Jennifer - Ela é forte, mais forte do que pensa que é. Leal. Muito mais suave do que pensa, mais amigável que acha que é. Tem essa imagem que construiu para si mesma da sobrevivente, caçando e tudo. Ela começa a descobrir que tem outros sentimentos. Que é uma garota e se transforma em uma mulher. Mas primeiro luta contra isso. Ela também se adapta bem.

ÉPOCA - Como se preparou?
Jennifer - Eu li os livros e o roteiro. E honestamente aí só apareci, com as falas memorizadas, e as disse. No meu caso, se eu entendi o personagem e o compreendi... Algo apitou aqui. Está tudo bem? Quero ter certeza de que todo o mundo tenha todas as minhas palavras. (risos) Porque tenho muitas opiniões e tenho muitas pessoas da mídia ao meu redor! (risos)

ÉPOCA - Katniss está super em forma. Como você se mantém em forma?
Jennifer - Esta não sou eu em boa forma. Esta sou eu: ah, não vou me preocupar. Sempre estou fazendo um pouquinho, tento me manter ativa. Claro que minha forma no filme era a melhor da minha vida. Porque estava me exercitando o tempo todo. Agora sou apenas eu, relaxada.

ÉPOCA - Mas essa coisa de ficar em forma tem a ver com as pessoas te observarem o tempo todo?
Jennifer - Claro. E também você vê fotos suas e pensa: “Meu Deus, não tinha ideia de que essa era minha aparência!”. Ou então as pessoas vêm e falam diretamente... Olha, ser atriz é difícil quando você ama comida, como eu. Ou posso ter a aparência que eles querem que eu tenha, ficar faminta e me sentir péssima ou eu posso ser normal e tentar não me afetar por isso. Mas, sim, há pressões o tempo todo.

ÉPOCA - Gostou da parte física da preparação?
Jennifer - Sim, o treinamento foi muito divertido. Fiquei com medo no começo, porque tinha acabado de sair de X-Men e realmente não queria mais fazer dieta! (risos) Mas não foi academia, era tudo em ambiente externo, correndo... Aquele tipo de exercício que você nem percebe que está fazendo.

ÉPOCA - Verdade que você se acidentou?
Jennifer - Isso virou uma coisa tão fora da proporção! Estava fazendo corridas contra a parede, que é você correr o mais rápido que puder e pular na parede, para que seus pés peguem tração e você suba. Fiz umas cinco ou seis vezes e na sétima vez meus pés desistiram. Então eu fui direto na parede e bati meu estômago. Meu treinador, que é hipocondríaco, achou que eu tinha rompido o baço. Então fui para o hospital, fiz tomografia, tudo, e aí descobrimos que eu estava super bem. Falei para ele: “Obrigada! Muito legal!”. (risos)

ÉPOCA - Você ficou confortável rodando na floresta?
Jennifer - Sim, toda hora estou filmando na floresta, então acabei me acostumando.

ÉPOCA - Já se rebelou contra alguma coisa?
Jennifer - Sim, uma vez quase fechei a minha escola. Eu fiz com que o banheiro fosse testado para bactérias (risos)... Eu pensava: “Esse banheiro é nojento!”. Eles não limpavam com frequência, não tinham torneiras automáticas, então você tocava as torneiras, tocava as maçanetas... É uma piscina de doenças! Aí fiz o teste, e o nível de germes era chocante, dava para interditar qualquer tipo de instituição. Quase fechei a escola. Então, sim, me rebelei, mas numa experiência científica.

ÉPOCA - E eles passaram a limpar?
Jennifer - Não sei, porque eu saí da escola. Foi meu último ato antes de ir para Nova York. Foi assim: só vou deixar um aviso e vocês que vivam com isso, seus banheiros são nojentos! (risos)

ÉPOCA - Acha que falta rebelião no mundo hoje?
Jennifer - Não sou rebelde. Não coloque esse rótulo em mim, senão todos vão procurar por entusiasmo e não vão encontrar! Vai ser: “Seja rebelde!” (diz com uma voz imitando alguém bobalhão). Sim, acho que os rebeldes são sempre interessantes, fazendo coisas que a gente gostaria de poder fazer.

ÉPOCA - Tem um rebelde favorito na história?
Jennifer - Hum... Rambo? (risos)

ÉPOCA - Ser indicada ao Oscar deve ter mudado sua carreira.
Jennifer - Ah, com certeza! Foi uma maravilha para a minha carreira, como sempre acontece com uma indicação ao Oscar. Recebo muito mais roteiros e não tenho de fazer tantos testes.

ÉPOCA - O que mudou na sua vida? Gastou dinheiro em algo, comprou um carro?
Jennifer - Não, ainda dirijo meu Volkswagen. Provavelmente deveria ter comprado umas roupas novas. Deveria ter gasto dinheiro com várias coisas, mas não tive tempo!

ÉPOCA - Jogos Vorazes são muito populares com jovens. Havia algo assim na sua infância?
Jennifer - Harry Potter! Li duas ou três vezes. Aí quando eu estava na escola, eu falava que no verão ia para Hogwarts! Eu era completamente louca, fingia que o lápis era uma varinha mágica e tudo! (risos)

ÉPOCA - Você conheceu os atores?
Jennifer - Encontrei o Daniel Radcliffe uma vez. E o Rupert Grint no Bafta. Não quis repetir o que fiz com o Daniel Radcliffe, então fingi que não era nada demais, aí vi que ele tinha um 7 na sua gravata. Perguntei o que era, e ele: “Não sei”. E na minha cabeça, pensei: “Isso é a coisa errada para dizer!” (diz, toda animada, como uma adolescente) (risos) Que errado!

ÉPOCA - Sua personagem tem de escolher entre esses dois caras. Eles não fazem mal para os olhos.
Jennifer - Nem um pouco! Nada mau, não é mesmo? Eles são jovens muito bonitos e muito doces. Se bem que, o que estou dizendo, eles falaram que eu era louca! Eles são péssimos! São horríveis. É tudo maquiagem. E Liam usa salto alto. Digo isso porque ele é alto, não porque ele faz isso nas horas vagas (risos). Eles são maravilhosos e muito bons atores, mas parece que eles falam coisas ruins de mim, o que é triste. Então eu sou a vítima.

ÉPOCA - Mas eles disseram que você é louca de uma forma engraçada.
Jennifer - Ainda assim, sou a vítima! (risos)

ÉPOCA - Josh pregou uma peça em você no set (o ator colocou um manequim dentro do banheiro do trailer da atriz, que se assustou tanto que teria feito xixi na calça).
Jennifer - Sim, ele fez.

ÉPOCA - Você está querendo dar o troco?
Jennifer - Sim. Estou pensando em laxantes, mas ainda não vou te contar como (risos).

ÉPOCA - Está comprometida para os três filmes?
Jennifer - Não, não, não, outra pessoa vai interpretar a Katniss nos outros (risos). Minha amiga Zoë Kravitz vai fazer o segundo... (risos)

ÉPOCA - Você disse que tem medo da questão de ficar famosa, mas Gary acabou de dizer que você é boa no nível Meryl Streep. Isso a preocupa?
Jennifer - (Faz uma cara de que absurdo) Isso, nem consigo processar. Posso ouvir, mas não fica registrado na minha cabeça que alguém me compararia a ela. Sou uma atriz, então a questão da fama dá um pouco de nervoso, mas não é exatamente isso que me amedronta, e sim como minha vida pessoal vai mudar.

ÉPOCA - Quais são suas referências, seus ídolos?
Jennifer - Amo Meryl Streep. Amo Charlize Theron, Gena Rowlands. Mas nunca olhei para alguém e pensei que era exatamente daquela maneira que queria ser. Nem ator nem diretor, que é algo que quero fazer.

ÉPOCA - Houve algum filme que você viu e percebeu que queria fazer aquilo?
Jennifer - Monster – Desejo Assassino, com Charlize Theron. Ela estava incrível. E A Vida em Preto e Branco, dirigido por Gary Ross. Por coincidência, foi o filme que me fez querer ser diretora.

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